Discussão
Era virada de ano, minha mãe tinha finalmente comprado os meus biscoitinhos de ano novo para que eu pudesse saboreá-los nos últimos minutos do ano que iria embora. Porém, eu estava doente. De cama e com febre. Tudo que eu queria eram aqueles biscoitos, mas não conseguia engolir nada. Meu estomago revirava os olhos, e colocava tudo para fora caso eu comesse alguma coisa. "Biscoito.." Eu murmurava e andava com um zumbi, me segurando nas paredes saindo do quarto até a sala de jantar, mirando os biscoitinhos com meus olhos meio fechados. Ao ficar frente a frente com eles, resmunguei por não conseguir coloca-los na boca e me arrastei novamente em direção ao banheiro. Algo estava errado. De frente para o banheiro, me lembrei da minha colega do ensino médio que sempre desmaiava, e eu, como nunca havia passado por isso, pedi para que ela me explicasse como era a sensação. Decidi não entrar no banheiro com receio de desmaiar lá e bater a cabeça. E lá estava a sensação... Tontura. Visão escura. Nada mais. Esqueci de tudo. Não me lembrava, quem eu era, do meu passado, dos meus sonhos, das pessoas que eu amava. Só via uma luz, e eu era a luz também. Não sabia onde ela começava ou onde eu terminava. Eu estava dentro da luz e fazia parte dela. Até que... Ouvi gritos. Me sentia flutuando na luz, e curiosamente queria saber o que essa voz falava. Gritava por um nome. Segui os gritos para saber se eu sabia algo sobre o nome. Era o meu nome. Abri os olhos. Minha irmã olhava para mim como se estivesse visto alguém morrendo. Minha mãe estava abaixada perto de mim, e meu pai batia em um ponto abaixo do meu nariz gritando desesperadamente pelo meu nome. Percebi que era a voz dele que eu havia seguido. Eu havia batido o ombro na cômoda que estava na entrada do quarto. Meu corpo estava fraco, não sabia como me levantar mais. Tudo estava pesado. Depois disso me colocaram na cama e cuidaram de mim. Nunca me esqueci da sensação. Eu era uma pessoa que tinha algumas crenças. Mas quando "morri", nenhum santo veio me receber, nem anjos... nada. Tenho a certeza de 98% que morri, pois eu estava consciente no outro lado, eu segui a voz, eu tinha outras sensação. E se não fosse pelos gritos do meu pai, tenho certeza, eu não voltaria. Eu havia perdido a memória de toda a minha vida. A segunda vez que morri, foi na verdade um quase. Já sai do meu corpo como viagem astral, mas nunca de sair sentindo o frio da morte. Mas nesse dia, eu senti esse frio. Foi durante a pandemia do COVID-19, uma semana depois que fiz compras de mantimentos com minhas mãe, comecei a ter sintomas da gripe. É um mal costume meu, tentar resolver os problemas sozinho e depois, se eu não conseguir resolve-los, pedir ajuda. Estava com alguns sintomas, dentre eles um cansaço extremo. Decidi, simplesmente, descansar. Dormi. Veio uma brisa na região da minha barriga. Era uma brisa que jamais senti na vida. Não era física. Parecia o espírito de uma brisa, ou o frio da morte. Abri os olhos, mas não eram meu olhos físicos. Porém, conseguia ver e mover o corpo físico também. Ouvi minha irmã abrindo a porta do quarto para a cachorrinha entrar nele e dormir comigo. Quando ela abriu o quarto. Não era minha irmã. Era eu no corpo da minha irmã. Ouvi meus pais conversando na sala. Era eu no copo dos meus pais. E percebi que todas as pessoas eram a mesma pessoa. Fiquei em paz. Fiquei confiante. Pois sabia.. que eu podia confiar em mim para fazer o mundo um lugar melhor. E finalmente, entendi o que todos os mestres que passaram na Terra queria dizer com suas sabedorias. Eu não conseguia me ver como um ser só com as pessoas, mas ao ver todos sendo eu, pude entender. Consegui me levantar da cama. A sensação ainda estava ali. Saí do quarto e fui a sala. Meu corpo estava pesado, e minha percepção estava indo embora, e não via mas eu mesma nas pessoas, via apenas as pessoas. By. Dragão Dourado
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